sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu já amei assim...

Com o coração todo. Com a vida toda e o mais que estivesse para vir...
Com 16 anos apaixonei-me perdidamente por um primo afastado. Conhecemo-nos num casamento de outro primo comum. Acho que aquilo foi Amor ao primeiro pestanejar de olhos. Não sei explicar mas lembro-me como se fosse hoje. Sem dúvida que foi o meu Primeiro Grande Amor. Ainda hoje me emociono a ver uma fotografia dele. A ler cartas que me escrevia. Ao ouvir a voz dele quando me telefona (o que é raro).
O Miguel (não era este o nome pelo qual o tratava) tinha mais 3 anos do que eu. Naquela altura notava-se muito. Ele já tinha carta de condução, vivia na cidade de Lisboa e os barcos que iam da minha terra para lá eram uma miragem. Havia muito poucos. A viagem era uma agonia (de enjoo) e demorava uma eternidade. Tudo isto se passou há 15 anos.
Naquele dia 6 de Julho fazia um calor imenso. Uma coisa assustadora. As minhas primas já me tinham falado tanto do Miguel que sentia que já o conhecia de trás para a frente, mesmo sem nunca o ter visto. Fiquei mais tarde a saber que brincámos na infância e já nessa altura éramos muito cúmplices e amigos.
Estava um pouco nervosa em casa da minha tia, a ver quando é que o "primo" entrava pela porta para satisfazer a curiosidade. Sempre fui uma esquisita (dito por alguns - eu chamo-lhe mais selectiva) e estava curiosa de ver a carinha dele. Foi em vão essa espera porque ele foi com os pais directo para a Igreja.
Já na Igreja, aqui a menina sempre de máquina fotográfica em punho, (uma Kodak que recebi da minha mãe tinha uns 12 ou 14 anos, não me recordo bem. Mas foi dos presentes que eu mais amei ter na vida. Ainda a tenho lá. Qualquer dia a ver se lhe volto a pegar...) andava por ali a passear e a tirar umas fotografias aos noivos, quando me fazem um sinal que o Miguel já estava ali sentado. Fartei-me de olhar para todo o lado e não via ninguém com o aspecto que me havia sido dito, só encontrava pessoas mais velhas. Até que, um senhor ao desviar-se me deixou ver o meu primo. E pronto... Rendi-me completamente. Foi das coisas mais intensas que senti até hoje. Ainda agora estou a escrever estas palavras e sinto a minha barriga a esvoaçar... Quando a cerimónia terminou saímos todos cá para fora e quando reparo, está a mãe dele a falar com o meu pai que me chamou imediatamente para me apresentar a prima. A senhora abraça-se a mim como se de uma afilhada se tratasse. Não sabia se havia de rir ou de chorar. Só sei que nem tive tempo de pensar. Em menos de 3 segundos o Miguel estava ali ao lado a ser-me apresentado pela mãe. Fiquei tão envergonhada. Não trocámos uma única palavra. Os nossos olhos disseram tudo o que havia para dizer. (Que saudades desses dias...).
Mais tarde, no copo de água, o menino ficou sentado na mesa à minha frente. Acho que ficou com uma tremenda dor de pescoço, porque passou o tempo todo a olhar para trás. Não vou ser mentirosa e dizer que não olhava, mas eu nessas coisas sou muito discreta e acho que consegui disfarçar muito bem... Passámos o dia inteiro a trocar olhares mas não falámos. Eu, timida que só visto, não conseguia proferir uma única frase sem me engasgar. Pelos vistos ele sofria do mesmo mal...
Ao final da noite o pai dele deu-me a morada e o telefone de casa. Eu achei que o Miguel nunca poderia olhar para mim. Afinal de contas se passou um dia ali ao lado, sem dizer absolutamente nada, não poderia jamais ter o menor interesse. E ao mesmo tempo éramos da mesma familia. Distantes como tudo, mas ainda assim...
Na 2a feira seguinte enchi-me de coragem e telefonei-lhe para casa. Atendeu o pai. Disse que ele não estava mas para eu tentar ao final do dia porque andava a trabalhar como estafeta e depois jogava Andebol (um fanático de primeira).
Pela hora de jantar tornei a ligar e mais uma vez sem sucesso. Para mim duas tentativas eram mais do que suficientes. Não voltava a insistir. No entanto pediu-me o meu número, dizendo que mais tarde me ligaria. Tal como hoje, já naquela altura achei que aquilo era puro Bluff. Mas não foi. O Miguel ligou. Pediu desculpas por não estar em casa e depois de desligarmos percebi que ele também estava ansioso para falar comigo. Marcámos encontro no dia seguinte, depois do trabalho (porque aqui a menina estava de férias de Verão). Já não consegui comer nada nesse dia, cheia de nervoso miudinho. Devo ter perdido um kilo ou mais (agora também devia ser assim - mas agora é ao contrário - os nervos dão-me para comer) com a ansiedade que senti naquele dia. Trazia um macacão de ganga vestido com uma alça caída. Achei o máximo. Era ainda mais giro assim do que naquele dia de camisa e uma gravata mal amanhada. Fomos caminhar os dois, conversámos sobre as nossas vidas e correu bem. Fomos devoarados por mosquitos no jardim onde o levei. Apenas sorrimos, olhámo-nos com a ingenuidade característica de dois adolescentes. O tempo voou. E eu só pensava quando o podia voltar a ver. Já tinha saudades mesmo antes dele partir. Queria que aquele momento durasse para sempre. Que ele viesse para ficar. Com a ingenuidade de quem se apaixona pela primeira vez de verdade. Mas ele teve de ir e a vida seguiu normalmente. Todos os dias ele me telefonava pela hora de almoço. Todos sem excepção. Não sei o que tanto havia para conversarmos. Escrevi-lhe muitas cartas. Muitas mesmo. Ele ainda as tem todas (penso eu). Disse-me sempre que era uma parte da vida dele que nunca iria deitar no lixo. Quando recebi a primeira carta dele dei pulos de alegria. Ele tinha adorado estar comigo. Trocámos juras de amor. Daquele puro refinado sem qualquer toque de malícia.
Duas semanas mais tarde eu vim da praia e tinha um recado de que ele estaria a chegar para me ver. Tremi. Não conseguia acreditar que ele me tinha feito aquela surpresa. Mas fez. Tomei o duche mais rápido da minha vida e corri para o jardim. Esperei, esperei e quando estava quase a desesperar, alguém me tapou os olhos e voilá. Abracei-o com muita força e ficámos assim durante algum tempo. É tão bom perceber através de um gesto de afecto que alguém sente o mesmo que nós sentimos. Aquele primeiro beijo foi das coisas mais especiais que eu senti em toda a minha vida. Aquela ternura e o afecto que partilhámos em cada abraço, em cada sorriso. Não há palavras belas o suficiente que possam descrever esses instantes...
Um mês depois estava eu de férias no Alentejo com a minha querida avó, recebo uma carta do Miguel a dizer que tinha voltado para a namorada que tinha em Lisboa. Senti o mundo cair-me em cima. Separámo-nos mas aquele Amor não morreu. Durante 3 anos fui muito infeliz.
Custa-me crer que amei desta maneira. Mas amei. E amar assim é algo que quero voltar a sentir... Porque é das melhores coisas do mundo. É uma sensação de plenitude única. Não há nada melhor...
Eu já amei assim... e sei que um dia voltarei a amar... exactamente da mesma maneira, ou então de outra, que seja melhor ainda...

4 comentários:

  1. São amores assim, que nos fazem viver :)
    *

    ResponderEliminar
  2. Bonito...é tao bom este amor...sem reservas :)

    Porque um dia me perdi

    ResponderEliminar
  3. O Amor é tão lindo! É pena é algumas pessoas tratarem mal o Amor...
    Mas fico muito contente que os momentos de desamor, não te tenham roubado a fé de que um dia, voltarás a amar assim!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Acho que quando o primeiro amor acaba, independentemente da forma como isso acontece, algo se quebra em nós para sempre... haverão sempre outros amores, mas nunca mais será a mesma coisa...

    ResponderEliminar